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Poucas pessoas não ligadas à música sabem a diferença entre harmonia e melodia. Preciso tentar explicar: a harmonia é o pastel, a melodia é o recheio. A harmonia é o vestido de noiva rico em seus belos detalhes, a melodia é a mulher por dentro dele. Enfim, a harmonia é o que todos os músicos tocam juntos ao mesmo tempo numa canção, que chamamos de acompanhamento, a melodia é aquilo que Frank Sinatra fazia sozinho com o microfone na voz. A harmonia é a ostra, a melodia é a pérola. Olhando por esse prisma, fica mais lógico entender, pelo prisma musical, porque o canto de um passarinho é uma melodia sem harmonia. Pois bem. Vamos ao que importa…

Por volta de 1720, em Kothen, na Alemanha, o compositor alemão e organista luterano Johann Sebastian BACH compôs uma linda obra musical em seu cravo (uma espécie de piano com som mais delicado que os normais, pois no piano as cordas são literalmente “marteladas” e no cravo as cordas são “beliscadas”). A essa obra musical, Sebastian BACH deu o título de “O Cravo Bem Temperado”. Ao primeiro movimento dessa obra, que eram apenas harpejos de acordes fazendo uma harmonia (em minha contagem deu 36 compassos) Bach deu o título de “Prelúdio nº 1 em Dó Maior.”

Em 1750, Bach, que estava quase cego,  faleceu aos 65 anos após uma mal sucedida cirurgia para tentar reverter a cegueira.

Passados 68 anos da morte de Bach, em 1818 nasce em Paris o futuro pianista Charles Gounod.

Em 1859, aos 41 anos, Charles conhece por meio de seu amigo e colega pianista Felix Mendelssohn (compatriota alemão de Johann Sebastian Bach), aquele Prelúdio nº 1 em Dó Maior de BACH e sobre essa harmonia bachiana cria uma MELODIA, para presentear a sua namorada, Fanny Hensel (irmã de Mendelssohn), porém alterando alguns acordes e acrescentando compassos na harmonia original de Bach. Tempos depois aplicou a essa melodia por ele desenvolvida a letra em latim da oração a Maria e essa tripla junção (harmonia de Bach, melodia de Gounod e letra da oração a Maria em latim)  ficou logo conhecida mundialmente até os nossos dias como a “Ave Maria de Gounod”.

Lembro aos leitores do meu blog que Johann Sebastian Bach era de origem familiar luterana e foi luterano até o fim da vida, e como protestante certamente não seria tão seguro dizer que teria concordado em que a base harmônica por ele composta fosse utilizada como ponto de partida para uma melodia com texto discordante de sua crença luterana.

Alguns historiadores movidos por uma temerosa poetização da narrativa histórica, alegam que Ave Maria de Gounod seria uma “parceria entre um luterano e um católico”. Acredito que pode haver essa parceria em qualquer outra área, como de fato existe, menos que Bach como luterano concordasse com a letra em latim da Ave Maria sobre sua harmonia, ainda que concordasse com a beleza da tocante melodia criada por Gounod sobre sua harmonia do Prelúdio. Mas… quando Gounod aplicou aquela letra sobre a harmonia de Bach, este já estava morto há muito tempo e sequer podia opinar, então não podemos falar de “parceria” propriamente dita, como é utilizada no campo das artes, que exige presença, troca e/ou aceitação de idéias personalíssimas compartilhadas.

Com o propósito primeiramente de resguardar a memória da crença teocêntrica luterana de Johann Sebastian Bach, me dediquei a construir, SOBRE A HARMONIA ORIGINAL do Prelúdio Nº 1 em Dó Maior do Cravo Bem Temperado uma NOVA MELODIA, dessa vez obedecendo EXATAMENTE a partitura original criada pelo organista alemão, e aplicando sobre essa nova melodia uma nova letra que darei o nome de SANTO ESPÍRITO. Em segundo plano, isso permitirá que os cristãos protestantes também possam ter a alternativa de usufruir da beleza dessa linda harmonia construída por um dos seus, pois a melodia criada pelo católico Charles Gounod acabou restringindo a composição do protestante Bach para o uso exclusivo dos católicos, já a letra e a melodia que apliquei poderão ser desfrutadas por ambas as correntes teológicas, uma vez que o Espírito Santo é de crença comum entre católicos romanos e protestantes.

A melodia foi concluída na madrugada de 03 de março de 2017, às 05:00 a.m. na pousada do Poço das Ovelhas (RJ) sem ajuda de qualquer instrumento, apenas ouvindo e me deixando conduzir pela envolvente harmonia do prelúdio, sob execução do pianista alemão Friedrich Gulda (Youtube, link no final).

Acrescentarei arranjos de cordas que já estão sendo compostos igualmente sobre a harmonia original de Bach, e a música será incluída no meu próximo álbum, que conterá a partitura original impressa no encarte, incluindo os novos arranjos de cordas e farei o possível para lançá-lo em selo independente em setembro/2017.

Abaixo, para quem se interessar, o áudio (harmonia) da composição original do Prelúdio N.1 de Bach em Dó Maior para O Cravo Bem Temperado executado em piano normal (claro, ainda sem a nova melodia que apliquei, que apresentarei a vocês em breve, com o arranjo de cordas finalizado).

Sergio Lopes, Natal-RN 04 de março de 2017.

 

 

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